Audiência sobre OVNIS no Congresso Americano

Por Francisco Mourão Corrêa
Coordenador Exopolítica Portugal
Director Continental da ICER

 

Ontem, dia 17 de Maio de 2022, fez-se mais um pouco de história, no que toca ao tema OVNI.

O comité de inteligência do Congresso Americano realizou uma audiência sobre fenómenos aéreos não identificados, tal como está neste momento previsto na secção 1683 da Lei de Autorização de Defesa Nacional, aprovada a 15 de Dezembro de 2021.

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Os trabalhos foram liderados pelo congressista Andre Carson, tendo como inquiridos Ronald Moultrie, sub-secretário de inteligência do Departamento de Defesa, e Scott Bray vice-director de inteligência da Marinha.

Após 54 anos, realizou-se aquela que foi a segunda audiência na história do Congresso Americano, dedicado a esclarecer o que se sabe sobre fenómenos aéreos não identificados.

Flashback: A 28 de Julho de 1968, as expectativas eram algo elevadas, mas o resultado no final do dia não foi o esperado. Apesar da falta de respostas conclusivas, o projecto Condon que se seguiu (e manteve as respostas em aberto), veio a justificar o encerramento do projecto Blue Book (1952-1969).

Ontem, no entanto, após o final da segunda parte da audiência, que foi fechada ao público, parte dos congressistas, incluindo o Chairman do Comité de Inteligência Adam Schiff, indicaram não terem ficado totalmente satisfeitos com as respostas obtidas, e reforçaram a necessidade de maior transparência.

Durante a sessão, Scott Bray começou por fazer referência ao Relatório do Departamento de Defesa, publicado em Junho de 2021, onde foram analisados 144 casos de OVNIS, observados entre 2004 e 2020, salientando que desde então o número de casos ultrapassou os 400. O aumento, disse Bray, prende-se com a implementação de um processo de report, que não existia antes, o que também permitiu diminuir o estigma que muitos pilotos ainda sentem no momento de submeter uma observação.

Bray enfatizou, para que não houvesse dúvidas: “A mensagem agora é clara: se vir algo, precisa reportá-lo!”

Convém aqui dar nota de que nesse Relatório de Junho de 2021, apenas um caso foi devidamente explicado, enquanto os restantes 143 mantiveram-se por explicar.

E em 18 desses casos, de acordo com o que veio escrito no Relatório, os objectos observados realizaram manobras que desafiavam os conhecimentos actuais de aerodinâmica.

 

 

Scott Bray, apresentou dois vídeos, que já circulam na internet há algum tempo e mostram, num dos casos, um objecto triangular filmado por uma equipa da marinha durante uma operação nocturna, e num outro caso, um objecto circular que se cruza com um avião da marinha.

No caso do objecto triangular, Bray avançou a hipótese de poder tratar-se de um drone, embora tenha reconhecido não ter sido possível ainda confirmá-lo. Já quanto ao objecto circular, Bray confirmou ao Chairman Adam Schiff, que não havia ainda explicação, apesar de o objecto ter sido detectado pelo piloto e pelos sensores do avião. Scott Bray pediu para dar seguimento a estes pormenores, apenas na sessão reservada.

Questionado pelo congressista Rick Crawford sobre a detecção de objectos dentro de água (como já foi referido por vários pilotos), Ronald Moultrie esclareceu que essa informação também teria de ser dada à porta fechada.

Os congressistas Jim Himes e Mike Gallagher colocaram talvez as questões mais “exóticas”, aquelas que todos os que seguem o tema há anos, gostariam de ter tido oportunidade de perguntar:

– “O Governo tem em sua posse material orgânico ou inorgânico que desconheça a origem?”

– “Houve outros projectos de investigação entre o Blue Book e o AATIP?”

– “Que conhecimento têm os senhores (Scott Bray e Ronald Moultrie) sobre o incidente de Malmstrom?” (em 1967, na base de Malmstrom, alegadamente 10 mísseis intercontinentais foram desactivados após um ovni surgir às portas da base)

– “Que conhecimento têm os senhores do memorando Wilson?” (memorando de 2002, de uma reunião entre o Dr. Eric Davis e o Almirante Thomas Ray Wilson, ex-diretor da Agência de Inteligência de Defesa. Durante esta reunião, o Almirante Wilson afirma que lhe foi negado o acesso a informações relacionadas a OVNIs.)

A todas estas questões, os inquiridos negaram conhecer qualquer informação relativa ao assunto.

De notar que no que toca à posse de material desconhecido, Luís Elizondo, antigo director do projecto AATIP, disse em várias entrevistas recentes, que o Departamento de Defesa tem em sua posse “amostras”.

O incidente de Malmstrom, para além de já ter sido abordado em inúmeros documentários e livros, um dos responsáveis da base e testemunha do evento, o Capitão Robert Salas, esteve mais do que uma vez no programa do Larry King na CNN a falar sobre o assunto, tendo também participado, enquanto testemunha, nas conferências de imprensa de 2001 e 2010, precisamente sobre este caso. É por isso difícil de acreditar que o Departamento de Defesa não tenha conhecimento deste caso.

No que toca ao memorando Wilson, o mesmo tem sido referido ao longo dos últimos 20 anos. A primeira referência à conversa em causa, data de 2001 por parte de Steven Greer, sendo que Edgar Mitchel, astronauta e 6º Homem a pisar a Lua, mencionou o memorando no programa de Larry King, na CNN, em 2008. Ou seja, também seria difícil que o Dep. Defesa não tivesse informações sobre o assunto.

No seguimento destas questões, o congressista Mike Gallagher solicitou que ficasse expresso o seu pedido para que o Dep de Defesa se inteirasse sobre o caso Malmstrom, assim como solicitou a inclusão de uma cópia do memorando Wilson no processo da audiência.

 

Para finalizar, Andre Carson frisou que serão esperadas mais audiências, dizendo: “A última vez que o Congresso teve uma audiência sobre UAPs foi há meio século. Espero que não demore 50 anos para o Congresso realizar outro. Porque a transparência é desesperadamente necessária.

O Chairman do Comité de Inteligência, Adam Schiff acrescentou: “É também responsabilidade do governo e deste painel compartilhar o máximo que pudermos com o povo americano – já que o sigilo excessivo apenas gera desconfiança e especulação”.

Ronald Moultrie, subsecretário de inteligência do DoD, prometeu aplicar “análise científica rigorosa” para estudar a origem dos UAPs por meio do Grupo de Sincronização de Gerenciamento e Identificação de Objetos Aerotransportados recentemente estabelecido do Pentágono

Conclusão, esta audiência serviu como que um ProForma, e embora tenha sido um bom pontapé de saída, é certo que será necessário fazer um pouco mais pela transparência no que toca ao tema ovni.