Artigo publicado no New York Times a 23 de Julho de 2020
https://www.nytimes.com/2020/07/23/us/politics/pentagon-ufo-harry-reid-navy.html
Por Ralph Blumenthal e Leslie Kean
Apesar das declarações do Pentágono, de que desmantelou o seu programa secreto para investigar objetos voadores não identificados, o projecto continua em andamento – renomeado e escondido dentro do Gabinete de Inteligência Naval, onde as autoridades continuam a estudar encontros misteriosos entre pilotos militares e veículos aéreos não identificados.
Os oficiais do Pentágono não irão discutir o programa, que não é classificado, mas trata de assuntos classificados. No entanto, ele aparece mencionado num relatório da Comissão do Senado, do mês passado, que descreve os gastos com as agências de inteligência do país para o próximo ano. O relatório refere que o programa “Unidentified Aerial Phenomenon Task Force“, deveria “padronizar a recolha e report” sobre avistamentos de veículos aéreos inexplicáveis, e tornar públicas algumas das suas descobertas a cada seis meses.
Embora alguns antigos funcionários ainda envolvidos no projecto – como Harry Reid, ex-líder maioritário do Senado – esperam que o programa procure evidências de que os veículos vêm de outros mundos, o seu principal foco é descobrir se outra uma nação, especialmente qualquer potencial adversário [dos EUA], está a fazer uso de tecnologia de aviação inovadora, o que poderia ameaçar os Estados Unidos.
O senador Marco Rubio, republicano da Flórida, que é o presidente interino da Comissão de Inteligência do Senado, disse a uma afiliada da CBS em Miami, que estava preocupado com os relatos de aeronaves não identificadas que têm sobrevoado bases militares americanas – e que é do interesse do governo descobrir a origem das aeronaves.
O Senador mostrou preocupação de que a China ou a Rússia, ou algum outro adversário, possa ter dado “algum salto tecnológico” que “lhes permita realizar esse tipo de actividade“.
Rubio disse também que alguns dos veículos aéreos não identificados detectados sobre as bases dos EUA, possívelmente exibem tecnologias que não estão no arsenal americano. Mas também referiu: “Talvez exista uma explicação completamente natural, mas precisamos saber.“
Em 2017, o New York Times divulgou a existência de um recente projecto, denominado Programa Avançado de Identificação de Ameaças Aeroespaciais. As autoridades do Departamento de Defesa disseram na altura que o projecto e os seus US $ 22 milhões em financiamento, tinham finalizado após 2012.
As pessoas que trabalham no projecto, no entanto, disseram que o mesmo ainda estava em operação em 2017, declarações que foram posteriormente confirmadas pelo Departamento de Defesa.
O programa foi iniciado em 2007 sob a Agência de Inteligência de Defesa e, em seguida, foi colocado no escritório do subsecretário de defesa da inteligência, que permanece responsável pela sua supervisão. Mas a sua coordenação com a comunidade de inteligência, será realizada pelo Escritório de Inteligência Naval, conforme descrito no projecto de orçamento do Senado. O programa nunca terminou, mas pouco foi divulgado sobre as operações pós-2017.
O antigo director do programa do Pentágono, Luis Elizondo, um ex-oficial da inteligência militar que renunciou em outubro de 2017 após 10 anos no programa, confirmou que a nova “task-force” é uma evolução do programa avançado de identificação de ameaças aero-espaciais.
“Não será mais necessário escondê-lo nas sombras“, disse Elizondo. “Haverá uma nova transparência.“
Elizondo está entre um pequeno grupo de ex-funcionários do governo e cientistas, com acessos de segurança que, sem apresentar provas físicas, dizem estar convencidos de que os objetos de origem indeterminada caíram e alguns dos seus materiais foram recuperados para estudo.
Por mais de uma década, o programa do Pentágono realizou briefings classificados para comissões do congresso, para executivos de empresas aero-espaciais e outros funcionários do governo, de acordo com entrevistas com participantes do programa e documentos desclassificados.
Nalguns casos, foram encontradas explicações terrenas para os incidentes. Mas mesmo sem uma explicação terrestre plausível, não torna a hipótese extraterrestre como mais provável, dizem os astrofísicos.
Reid, o ex-senador democrata do Nevada, que fez pressão pelo financiamento do então programa OVNI, quando ele era o líder da maioria do Senado, disse acreditar na ocorrência de acidentes com veículos de outros mundos e que os materiais recuperados têm sido estudados secretamente ao longo das décadas, muitas vezes por empresas aero-espaciais sob contractos governamentais.
“Depois de estudar o assunto, cheguei à conclusão de que havia relatos – alguns substanciais, outros não tão substanciais – de que havia materiais reais que o governo e o sector privado possuíam“, disse Reid em entrevista .
Nenhum destes materiais recolhidos de acidentes foi levado para verificação independente. E alguns dos objectos recuperados, como fragmentos metálicos incomuns, foram posteriormente identificados em estudos de laboratório, como tendo sido fabricados pelo Homem.
Eric W. Davis, um astrofísico que trabalhou como subcontratado e depois consultor do programa OVNI do Pentágono desde 2007, disse que, em alguns casos, o exame dos materiais até agora não conseguiu determinar a sua origem, o que o levou a concluir: “Nós não temos capacidade para os produzir“.
As restrições à discussão de programas classificados – e a ambiguidade de informações citadas nos slides não classificados dos briefings – colocaram os oficiais que estudaram OVNIS na posição de expôrem as suas opiniões sem poderem apresentar nenhuma evidência concreta.
Davis, que agora trabalha para a Aerospace Corporation, uma contratada do Departamento de Defesa, disse que entregou um briefing classificado a uma agência do Departamento de Defesa, em março, sobre recuperações de “veículos externos não fabricados nesta planeta“.
Davis disse que também deu instruções classificadas sobre a recuperação de objectos inexplicáveis, a membros da equipe da Comissão de Serviços Armados do Senado a 21 de outubro de 2019, e a membros da equipa de Inteligência do Senado dois dias depois.
Os funcionários da comissão não responderam aos pedidos de comentários sobre o assunto.
O fascínio público pelo tema dos OVNIs atraiu o presidente Trump, que disse ao filho Donald Trump Jr. numa entrevista em junho, que sabia coisas “muito interessantes” sobre Roswell – uma cidade no Novo México que é central nas especulações sobre a existência de OVNIs. O presidente exclamou quando perguntado se desclassificaria qualquer informação sobre Roswell: “Vou ter que pensar nisso“.
De qualquer maneira, disse Reid, mais deve ser tornado público para esclarecer o que é conhecido e o que não é. “É extremamente importante que as informações sobre a descoberta de materiais físicos ou veículos recuperados, sejam divulgadas“, disse.